O Protetor Dos Poderosos
Numa manhã de outubro, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro tocou a campainha da moradia do ministro Orlando Silva, dos Esportes, no Lago Sul, em Brasília. O sol mal surgira no horizonte, mas como o questão urgia, dispensaram o café da manhã. Silva seria ouvido à tarde, na Comissão de Turismo e Desporto da Câmara, sobre a acusação de ganhar uma caixa de dinheiro de propina, pela garagem do Ministério.
“Tem oportunidade de ter grampo? ”, perguntou o advogado, sentado num sofá. “Não, não há hipótese”, falou o ministro. “Então vamos para o pau”, argumentou Almeida Castro, anunciando três medidas prementes. O segundo intuito era pôr pela imprensa versões favoráveis do testemunho do ministro. Por ter mais sensatez e juridiquês do que o comprador, o advogado se prontificou a doar as entrevistas.
Afinal de contas, o ministro deveria solicitar a Roberto Gurgel, o procurador-geral da República, que o ouvisse em juízo. a sua explicação ideia é que Silva fosse intimado a clarificar os detalhes a partir de ofício, sem alarde. Antônio Carlos de Almeida Castro é criminalista, está acostumado a apresentar com o júri. Foi nesta condição que orientou Orlando Silva a se ater às denúncias, ao invés tentar desqualificar os acusadores.
Os ataques ficariam por conta de deputados de seu partido, o PCdoB. E o principal: o ministro deveria ceder atenção total à plateia. “O senhor neste momento tem o https://bolsiconstrucoes.eng.br , não se preocupe em comentar pra ela ou pro público em geral”, argumentou-lhe. Quem contrata Kakay – apelido que Almeida Castro cunhou para si mesmo, planejando até a grafia – compra um pacote raro no mercado jurídico.
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A capilaridade prossegue pela iniciativa privada. De teu portfólio constam empreiteiras (Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS), bancos (Sofisa, BMG, BMC, Pine), banqueiros (Daniel Dantas, Salvatore Cacciola, Joseph Safra), empresários de renome internacional e milionários provincianos, todos num momento ou outro enrolados com a Justiça. Como cereja no bolo, algumas vezes advoga pra gente com pouco ou nenhum dinheiro. Faz isto no momento em que a circunstância lhe toca, uma autoridade lhe pede ou no momento em que descobre que um réu está sendo injustiçado.
Foi desse jeito que, há pouco, passou a simbolizar sem qualquer custo 3 estudantes da Universidade de Brasília, processados por um professor que se sentiu ultrajado ao ter seus métodos de ensino questionados. Bem como assumiu a defesa de Adriana Villela, acusada de tramar o assassinato do pai, o ex-juiz José Guilherme Villela, do Tribunal Superior Eleitoral, da mãe e da empregada da família. Entrou no caso por ter achado absurdos os erros da polícia na condução do inquérito. Aos cinquenta e quatro anos, Kakay parece um personagem de capa e espada. As Páginas Da Web Relacionadas , basto e semigrisalho. Devido a dois implantes capilares, alardeia com agitação a juba de cachos revoltos, mal domados por creme ou por uma tiara.
Um incidente de carro na juventude lhe rasgou uma cicatriz no rosto e fez com que perdesse cota da visão do olho direito. No entanto é mais fácil imaginá-lo como um prussiano ferido pela Competição de Valmy ao proteger a aristocracia. mezaninos caminha com o paletó pendurado no ombro, como um manto, e gargalha de modo estentórea e libertina, lembra um vilão de Dumas père. Em um lugar de togas comportadas, ternos invariavelmente escuros e gravatas no máximo vermelhas, Kakay trouxe novos – e ululantes – matizes ao dress code jurídico.